domingo, 12 de agosto de 2007

Tormentas

Atormentada...
Mesmo quando pareço um lago sereno, estou atormentada.
Atormentada pelo medo do escuro dos meus vazios.
Atormentada pela raiva insana que habita meu peito, escondida, sorrateira, assassina dos mais sublimes sentimentos.
Atormentada pelas dúvidas, onde foram parar as convicções? Será que algum dia as tive?
Atormentada pela solidão que eu mesma desejei e construí para mim. Corpo aberto, sem muros, sem limites, disponível. Alma hermética, cercada por uma muralha invisível e alta. Indisponível, inacessível.
Só razão, nenhum sentimento, exceto os politicamente corretos, os socialmente desejáveis. Sentimentos plásticos, ora enrijecidos, inflexíveis. Acabou minha mentira predileta, caiu a máscara das minhas sentimentalidades. Eis-me aqui despida da pele, carne viva diante do mundo lusófono.
É isso, eu tantas vezes fui romântica.
Mentira fingida.
Eu tantas vezes fui sensível, carinhosa, compreensiva.
Mentira!
Queria tão somente a recompensa, um prato de comida fria, um cobertor velho e furado. As migalhas que ficaram sobre a mesa.
E quando não me davam o restinho de seu tempo, eu, criança birrenta e mimada, escondia-me num canto, embaixo de uma mesa e destilava toda minha raiva, todo meu orgulho, virava as costas e saía batendo os pés, batendo as portas que deixava atrás de mim.
Agora, o que fazer?
Já não dá mais para ser criança birrenta, já não é possível ser boazinha, porque boazinha já não sou nem para mim.
Não sei não ser criança birrenta e mimada.
Preciso aprender a ser mulher.
Preciso aprender a conviver com as tormentas.
Preciso deixar de ser pensamentos e palavras e me tornar sentimento.
Deixar-me invadir por eles, abandonar esse eu tão egocentrico e entregar-me ao amor, à dor, aos riscos de estar vivo e transitando verdadeiramente no mundo.
Socorro, alguém me mostra como é ser mulher?

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